Um dos últimos remanescentes do histórico Grupo Frente, que introduziu o abstracionismo geométrico no Brasil nos anos 1950, foi enterrado terça-feira (27), no Cemitério São João Batista, no Rio: o pintor concretista Rubem Ludolf, nascido em Alagoas há 78 anos. Há exatamente um mês ele concedeu sua última entrevista, do leito da clínica carioca onde havia sido internado, logo após a abertura de sua exposição no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, em São Paulo, que permanece aberta até este sábado (31). Ludolf morreu de segunda-feira (26), às 15 horas, no Hospital Samaritano do Rio, conforme informou seu sobrinho Luís Ludolf.
Embora fosse reconhecidamente um dos maiores artistas do movimento concreto brasileiro, tendo participado de cinco bienais, Ludolf só recentemente teve o merecido reconhecimento do mercado, atraindo novos colecionadores para uma obra coerente e sem concessões. Até o fim da vida o artista criou silenciosamente, não guardando mágoa por ter permanecido tantos anos à margem desse mesmo mercado. Ludolf, nos últimos tempos, havia trocado a pintura pelos guaches sobre papel, seguindo recomendação médica. Há três anos, vítima de um aneurisma da aorta que o levaria à morte, o pintor foi obrigado a abandonar as tintas.
O papel, de qualquer modo, sempre foi o suporte inicial de todas as suas pinturas. Formado em arquitetura em 1955 pela Universidade do Brasil, no Rio, ele adquiriu o hábito de construir cada composição no papel milimetrado antes de transferir o desenho para a tela. "Sempre penso o desenho antes da cor, uma maneira de ordenar o mundo com formas geométricas", justificou Ludolf em sua última entrevista, publicada no mês passado.
Ludolf trabalhou 46 anos como arquiteto do DNER, aprendendo paisagismo como autodidata para interferir na natureza das estradas brasileiras. Sua pintura, ao contrário, nunca foi uma janela para o mundo, ou seja, não era uma arte de representação. Sempre fiel à abstração geométrica, esse ex-aluno de Ivan Serpa integrou o primeiro grupo de artistas concretos - ao lado de Aluísio Carvão e Lygia Clark - e nunca se curvou às oscilações do mercado.
A marchande Raquel Arnaud, que organizou sua derradeira exposição, admite que havia certa resistência à pintura de Ludolf por parte do mercado, rompida com a mostra. A exposição, segundo ela, atraiu novos colecionadores e um público pouco familiarizado com a obra do pintor, que calculava ter produzido mais de 400 estudos à espera de versão final nos últimos 50 anos. (Antonio Gonçalves Filho - AE)
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