Em meio ao fogo cruzado do grampo que derrubou a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, publicou 'Sinto vergonha de mim' em seu blog - um desabafo em forma de poesia na qual ele diz: "Tenho vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro." É a mais longa manifestação pública do delegado desde que estourou o escândalo da interceptação telefônica que pegou seu desafeto maior, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e levou o presidente Lula a decretar o afastamento do delegado Paulo Lacerda do comando da Abin.
Cérebro da Satiagraha - missão federal que em julho levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta por suspeita de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e quadrilha -, Protógenes não cita nomes em seu texto, nem mesmo faz referências explícitas a esse ou aquele episódio. Afastado da Satiagraha desde julho, ele deixou o inquérito e deslocou-se para Brasília para fazer um curso de especialização na Academia Nacional de Polícia. Sob forte pressão de superiores, Protógenes já admitiu ter recorrido à Abin para executar a grande operação.
Amigo de Lacerda, ele repete 7 vezes a palavra vergonha na poesia. "Tenho vergonha de mim, pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro."
Trinta e três mensagens de apoio e solidariedade foram imediatamente captadas pelo blog. "Por que o senhor não chuta o balde e escancara a realidade?", sugere um internauta. "Por que não procura apoio em instituições internacionais?" Outro escreveu: "Protógenes, não desanime. Por mais que, tecnicamente, a operação redunde em fracasso, numa perspectiva social as coisas irão se inverter. Pouco a pouco as pessoas vão tomando conhecimento do mundo que as cerca e essa dominação mesquinha com que a mídia e os poderosos insistem em nos subjugar irá cair por terra." (Agência Estado)