sexta-feira, 2 de outubro de 2009

MEC cancela provas do Enem

O Ministério da Educação (MEC), o Ministério da Justiça e a Polícia Federal estão juntos na investigação que irá apurar os responsáveis pelo vazamento de cópias da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que seria realizada neste final de semana.

Segundo o MEC, o cancelamento ocorreu na madrugada de ontem, após o ministro Fernando Haddad receber um telefonema de uma jornalista da capital que denunciou a venda de modelos da prova.

As provas, que seriam aplicadas nos dias 3 e 4 de outubro, reuniriam cerca de 4 milhões de estudantes em escolas de todo o País. Em Sorocaba, a Fundação Vunesp e a Unesp aguardam a marcação da nova data de prova e o cronograma de divulgação do resultado para se manifestarem sobre eventual mudança no calendário do Vestibular 2010, caso seja necessário. Garantiram que os candidatos serão informados com a devida antecedência se houver qualquer alteração.

Em nota, o MEC informou que o ministro Haddad assegurou que as provas serão realizadas em novembro, no prazo de 45 dias, aproximadamente. A previsão é de que a nova data seja anunciada na próxima semana. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) já tem uma segunda prova, mas será preciso reorganizar a logística de aplicação.

Em entrevista coletiva no início da tarde de ontem, Haddad comunicou que pediu ao superintendente da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, a abertura de inquérito para apurar o vazamento das provas e convocou o consórcio Consultec, vencedor da licitação para todas as etapas de realização do Enem, para uma reunião de emergência, que foi realizada no Ministério da Educação.

No encontro com a imprensa, Haddad relatou que tomou conhecimento do vazamento das provas no fim da noite de quarta-feira (30), quando a jornalista Renata Cafardo, do jornal “O Estado de S. Paulo”, em ligação para o ministro, informou que o jornal havia sido procurado por duas pessoas que queriam vender a prova impressa por R$ 500 mil.

Reverter Maus Costumes

Num momento como este que Sorocaba vive, quando o cenário político é abalado por supostas ações de prevaricações praticadas por agentes públicos em comum acordo com empresários, com a população ficando perplexa com o que está acontecendo, não se pode deixar de bater mais forte na necessidade de se aperfeiçoar os mecanismos de controle e a força indispensável para a conquista de padrões éticos na sociedade. Não bastam apenas retórica e discursos inflamados. Também não são suficientes moralismos ou meros princípios éticos. Nem é suficiente apenas a edição de leis, já que elas também podem ser burladas. Nenhuma dessas atitudes ou instituições tem o poder de mudar comportamentos, a não ser de forma secundária e periférica.

O fato é que só os exemplos educam verdadeiramente. Só leis adequadas, fiscalizadas pela sociedade e levadas a sua radical aplicação, inclusive com penas duras para os infratores, é que podem ter um caráter transformador. Quando o Brasil inteiro, em todas as instâncias do poder, se ressente de modelos positivos e está sobrecarregado de exemplos negativos, nada é mais verdadeiro do que a sabedoria dos velhos tempos propalando que as palavras movem, mas só os exemplos arrastam.

Nesta altura dos acontecimentos, por mais que não existam elementos decorrentes das investigações que possam comprometer a idoneidade do prefeito Vitor Lippi, o fato é que ele está convivendo bem de perto com assessores que querem comprometê-lo, ou seja, os inimigos estão mais próximos do que ele imagina, podendo, inclusive, estarem sendo estimulados por antigas desavenças políticas. Por isso mesmo, Lippi deve colaborar de todas as formas com as investigações, inclusive escancarando as portas da Prefeitura para que os policiais possam cumprir com suas obrigações. O fato de a polícia e o Ministério Público terem tomado conta do Paço, em busca de indícios em torno dos casos que vieram à tona, é uma excelente oportunidade para o prefeito se aprofundar na identificação das prevaricações que podem estar ocorrendo ao seu redor. Daí a necessidade de colaborar com tudo e ter elementos suficientes para fazer uma limpeza nos setores onde seus assessores diretos e funcionários podem não estar correspondendo às expectativas de um padrão ético-moral que deles se espera.

Caso não aproveite a chance para mudar as regras no âmbito interno da Prefeitura, com certeza os próximos três anos deste seu segundo período administrativo vão se transformar num verdadeiro inferno político. Com a responsabilidade que tem e com o objetivo de preservar a sua imagem e idoneidade, o prefeito Vitor Lippi tem a obrigação de colaborar de todas as maneiras com as investigações que estão em andamento, inclusive afastando de seu convívio o quanto antes os elementos que a polícia já identificou estarem fazendo parte das práticas delituosas. Mais do que isso, deve fazer de tudo para levá-los ao banco dos réus, caso, evidentemente, a culpa de todos eles seja realmente comprovada.

Respeito e Lealdade

Nem é mais preciso enfatizar com tanta convicção como a degradação da sociedade está cada vez mais evidente. Corrupção, deterioração dos costumes, insegurança, desrespeito e perda de uma série de outros valores fundamentais é o que não falta no cotidiano, principalmente nos grandes centros urbanos do País, como é o caso de Sorocaba. A marca aparente da ausência de valores é o egoísmo, que faz com que as pessoas busquem cada vez mais interesses próprios, sem levar em conta valores como a seriedade, responsabilidade e os interesses do bem coletivo, entre outros.

Só nesta semana tivemos dois bons exemplos daquilo que acontece de pior na vida de Sorocaba: a detenção de um vereador em estado etílico além da conta e participando de um "racha", e o esquema de corrupção envolvendo uma empresária e secretários municipais.

A cultura da impunidade é a mãe de todos os desatinos que acontecem ao nosso redor, tendo muitas vezes como protagonistas pessoas de ilibada reputação, mas que, de repente, enveredam pelos piores caminhos da esperteza, da desonestidade e da degradação, decepcionando a todos. Se punições são estabelecidas por diferentes códigos, é porque os valores foram perdidos, a ponto de não sermos capazes de respeitar as normas existentes para que haja harmonia nos relacionamentos que devem prevalecer na sociedade.

Como desprezar duas das mais importantes dimensões na vida de qualquer pessoa: a visível e a invisível? Como numa construção, há o aparente, aquilo que todo mundo vê, e há aquilo que está por trás da estrutura, e que ninguém tem condições de ver. Pode-se dizer que os valores de uma pessoa são a parte invisível, ou seja, os alicerces. Podem ser, também, as raízes, que ficam por baixo da terra. Só que raízes sadias com certeza vão produzir bons frutos. Resumindo, valores são prioridades internas que serão expressas em atitudes externas.

Quem ocupa um cargo público, eleito ou não, precisa ter muito mais consciência e responsabilidade, além de um decidido, determinado e desinteressado trabalho em prol da comunidade. O que Sorocaba ou qualquer outra cidade precisa é justamente disso, não importando a qual partido a pessoa pertença, qual religião professa, que tipo de trabalho desenvolve, a que classe social pertença. Quem está na vida pública não pode ter outro tipo de interesse que não seja o de proporcionar o bem comum que cada pessoa merece. Alguns rituais precisam ser seguidos à risca. Se os homens públicos ganham para isso, graças ao dinheiro pago pelos contribuintes, como não ter respeito e lealdade para com toda a população?

Esquema Comprometedor

Mais grave do que a empresária Ivanilde Vieira ter sido presa acusada de ser integrante de um esquema que achacava donos de postos de gasolina, o que não deixa de ser constrangedor e decepcionante para todos que a conheciam, é o fato de uma suposta quadrilha, ligada a ela, estar instalada na Prefeitura de Sorocaba. Por mais que nada conste contra o prefeito Vitor Lippi, que sempre foi digno do cargo que ocupa, demonstrando ser um administrador honesto e bem intencionado, os funcionários que estariam agindo ao seu redor e já identificados pelas autoridades que apuram os fatos, não deixam de ser um verdadeiro caso de polícia. Portanto, neste momento, tudo o que está ocorrendo na esfera administrativa municipal requer do prefeito uma atenção especial e a sua pronta colaboração para que os meandros de toda a engrenagem que movimentava o esquema sejam esclarecidos o quanto antes, até para livrá-lo de qualquer envolvimento com os responsáveis por este escândalo.

Tudo indica que o prefeito Vitor Lippi, após o sucesso de sua primeira administração, acabou confiando demais em alguns de seus assessores diretos. E nem poderia ser diferente, porque até então pareciam estar correspondendo às expectativas. Como desconfiar de alguém que sempre pautou por uma conduta digna?

Os fatos, porém, estão a demonstrar que alguns deles não mereciam tanta confiança, como é o caso do secretário de Governo, Maurício Biazotto, cuja suposta participação no esquema já foi confirmada pela polícia. Tanto é que ele se apressou em pedir seu afastamento do cargo, talvez com o propósito de não prejudicar ainda mais a figura do prefeito. E Lippi, que ficou perplexo com os fatos que vieram à tona, agiu de forma correta ao aceitar de imediato o pedido, isto para que, no âmbito interno da Prefeitura, as investigações possam ser desenvolvidas sem a interferência de quem quer que seja. Além disso, de acordo com os comentários em torno do caso, um outro secretário também estaria participando dos atos ilegais, o que torna a situação ainda mais grave ao redor do prefeito. Antes disso, havia ocorrido o caso com o ex-secretário Januário Rena, que, embora nada tinha a ver com corrupção na Prefeitura, também se constituiu em algo indigno e que pesou contra a administração municipal, apesar de o prefeito Vitor Lippi também não ter nada a ver com o que aconteceu, mas fazendo o que tinha de ser feito, como foi a imediata exoneração de Rena.

O fato é que, no exercício do poder, dependendo das situações inesperadas que surgem, o administrador público não pode deixar de exercer o seu papel para conter os excessos e os desatinos. Levando-se em conta a responsabilidade que tem, com certeza é isso que o prefeito vai fazer, procurando colaborar como se deve para que as autoridades policiais possam esclarecer o caso como todos esperam.