quinta-feira, 23 de abril de 2009

Será que vão colocar ordem nesta suruba?

Perfeito o texto de Ricardo Kotscho do Blog "Balaio do Kotscho" que segue abaixo.

Confesso que fiquei meio zonzo ao terminar de ler o jornal e o noticiário de hoje na internet.
Nem sei o que pensar e escrever, tantas são as declarações e as histórias inacreditáveis que aparecem a cada dia nesta verdadeira suruba institucional em que se transformou o nosso Congresso.
Mas parece que, finalmente, eles começaram a prestar atenção no que o povo está achando de tudo isso. Perceberam que a paciência acabou, a raiva é grande e alguma coisa precisava ser feita.
Num clima de barata voa, os líderes partidários resolveram tomar algumas providências “moralizadoras” para estancar a sangria do nosso dinheiro e da credibilidade da instituição a que deveriam servir e não se servir.
São muito nebulosas estas medidas, sem prazos e métodos definidos, e ainda dependem da aprovação dos próprios interessados para a manutenção ou não destes privilégios indecentes.
Não dá para dizer que a farra acabou e que agora vão tentar pelo menos organizar a orgia com o dinheiro público, tratado este tempo todo como “coisa deles” e, portanto, sem precisar dar qualquer satisfação ao distinto eleitrado que paga a conta.
Pelas novas revelações feitas por colegas do “Congresso em Foco”, o site que desnudou esta farra, não escapou quase ninguém, nenhum partido, nem os autodenominados integrantes do chamado “grupo ético” do Congresso.
Virou tudo uma geléia só. Basta ver a foto de Roberto Stuckert Filho, da Agência O Globo, publicada no alto da página A4 da Folha sob a rubrica “Os Intocáveis”, mostrando a chegada ao Congresso dos parlamentares de quatro partidos, depois de intermináveis discussões sobre medidas de prevenção de incêndios numa casa pegando fogo.
As expressões assustadas de Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, ladeado por Inocêncio Oliveira (PR-PE), Fernando Gabeira (PV-RJ), de óculos escuros (para não ser reconhecido?), e Nelson Marquezelli (PTB-SP) são emblemáticas da perplexidade geral.
Há um fato novo nesta história dos descalabros, que não são de agora, mas nunca ficaram tão evidentes.
Desta vez, não houve nenhuma manifestação de rua, nada de caras pintadas nem mulheres batendo panelas, discursos de militares, invasores furiosos depredando as instalações do Congresso, como acontecia em outras épocas.
Deu-se uma revolta popular silenciosa e invisível, que só era possível notar lendo o que os leitores/eleitores escreviam na internet e, certamente, enviavam também para os correios eletrônicos de suas excelências.
Vai ver que atenderam à minha sugestão de domingo no post “Congresso: povo bravo está perdendo a paciência”, e resolveram pedir a alguns dos seus milhares de assessores para dar uma olhada no que o povo estava pensando de tudo isso.
Agora falam em restringir cotas de viagens, limitando-as aos próprios parlamentares dentro do território nacional e a serviço só do mandato, e divulgar pela internet os gastos efetuados com as muitas verbas que recebem além do salário, que nos custam no mínimo R$ 102,5 mil por deputado.
Admitem até acabar com a tal verba indenizatória de R$ 15 mil por mês, uma espécie de salário extra sem desconto de imposto de renda, mas que ninguém se iluda.
Lá no meio da matéria sobre as “medidas moralizadoras” leio que “por ora, deputados e senadores decidiram adiar o aumento em seus salários de R$ 16,5 mil para R$ 24,5 mil. Este reajuste será debatido nas próximas semanas se houver consenso a respeito da boa repercussão das medidas de ontem”.
Ou seja, estão só dando um tempo para ver como a distinta platéia vai reagir para deixar tudo como está, mudando apenas a embalagem, ou melhor o embrulho.
Quem ainda acredita neles? Como acreditar numa turma que torrou R$ 4,7 milhões em 1.885 vôos internacionais entre janeiro de 2007 e outubro de 2008?
Uma turma que tem um deputado chamado Dagoberto Noronha (PDT-MS) que pagou 40 vôos internacionais, 22 deles com parentes acompanhando, num total de R$ 92,6 mil que sairam do nosso bolso?
Presidente da Comissão de Ética (acreditem!) da Câmara, o deputado ACM Neto (DEM-BA), mais conhecido por Grampinho, em vez de tomar alguma providência contra estes parlamentares, tem a coragem de dizer que “a imprensa quer fechar o Congresso”.
Não é a imprensa, não, meu jovem parlamentar. A imprensa, reconheço, tem muitos defeitos, mas desta vez não tem nada com isso. Quem está desmoralizando o Congresso Nacional são vocês.
São os deputados e senadores que não se dão ao respeito e achincalham a instituição. Piores que seus atos, são suas torpes justificativas para cometer todas as barbaridades, alegando que não fazem nada proibido porque não sabem o que podem e o que não podem fazer, ninguém lhes diz o que é certo e o que é errado.
Acham normal pegar passagens pagas pela Câmara com o nosso dinheiro, juntar a família e dar várias voltas pelo mundo, por que não?
Se o regimento do Congresso permite, se as regras não são claras, a reação popular vai se encarregar de lhes mostrar os limites. Eles vão acabar descobrindo, mais dia, menos dia, a nova democracia realmente participativa, e não apenas representativa, que está se alastrando na internet. Já são quase 60 milhões de brasileiros ligados à rede, ou seja, metade do eleitorado.
(Balaio do Kotscho)