quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Congresso Nacional Em Frangalhos

Com a crise que se estabeleceu no Senado por conta da descoberta dos atos secretos e das inúmeras denúncias de irregularidades contra o presidente da Casa, José Sarney, feitas pela Receita Federal e pelo Ministério Público Federal, sem se falar do arquivamento no Conselho de ética das onze representações contra ele e que frustraram as expectativas de milhões de brasileiros, o Partido dos Trabalhadores vive um momento de grande desestabilização interna, com muitos de seus integrantes decepcionados com os acontecimentos, principalmente com a ingerência do Palácio do Planalto nas questões do partido.

Pode-se dizer, diante da rebelião que vai atingindo o partido, que nem os petistas aguentam mais o PT. Indignado com o desfecho da reunião do Conselho de Ética que culminou com o engavetamento das representações, o senador Aloísio Mercadante anunciou que estava deixando a liderança do partido na Casa. Um dia antes, a senadora Marina Silva já havia deixado o PT para se filiar ao Partido Verde, devendo, inclusive, sair candidata à presidência da República contra a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Outro que deve deixar o partido é o senador Flávio Arns, do Paraná, também inconformado com o que aconteceu no Conselho de Ética. Outras lideranças do PT, inclusive o senador Eduardo Suplicy, também descontentes com os rumos da agremiação, mostram que uma grave crise tomou conta do partido. E ninguém sabe até que ponto ela será desfavorável ao PT nas eleições presidenciais do ano que vem. Uma coisa, porém, todos já sabem: a candidatura da ministra Dilma Rousseff deverá sofrer fortes abalos.

O fato é que tudo aquilo que vem ocorrendo na política, a partir de Brasília, é algo decepcionante. O corporativismo inconseqüente, a corrupção e o levar vantagem em tudo é desolador. No Congresso Nacional, por exemplo, CPIs e Conselhos de Ética, em vez de apurar os atos perpetrados pelas aves de rapina e dar um basta à impunidade desenfreada, procuram acobertar as piores patifarias praticadas contra a Nação. Ainda há alguns meses, como todos se lembram, o deputado Edmar Moreira (o homem do castelo de R$ 25 milhões), em nome de todas as raposas que estão de olho no galinheiro, foi indicado como corregedor e presidente da Conselho de Ética da Casa. Sua missão, com certeza, era a de proteger os seus pares envolvidos em escândalos. É de pasmar a brincadeira a que chegou o Congresso Nacional. Felizmente, pressionado pela opinião pública, em boa hora ele resolveu renunciar a essas funções. Tudo isso, porém, mostra como a instituição está em frangalhos.

Se a sociedade brasileira não sair de seu berço esplêndido, ignorando as barbaridades que são cometidas e deixando de pressionar os políticos para que tenham mais responsabilidade no desenvolvimento de suas atividades, o que é que se pode esperar de melhor para o Brasil?

Rindo À Toa

Desde 2005, quando foram explodindo os casos do Mensalão, dos Correios, dos Sanguessugas e outros mais, envolvendo o Congresso Nacional e com o Palácio do Planalto nunca sabendo de nada, os brasileiros vivem atordoados e indignados pela avassaladora crise moral que se abateu sobre a Nação. E nada mudou com o passar dos anos, a não ser o surgimento de novos casos escabrosos, como este que atualmente mais uma vez paralisa o Senado da República. Há uma inquietação perturbadora nos corredores do poder, mas os seus protagonistas, com a maior cara-de-pau, fingem que tudo é passageiro ou que nada demais está acontecendo. Figuras de destaque da vida política nacional, como os senadores José Sarney e Aloizio Mercadante, entre outros, deixam todo mundo abismado com uma conduta que só leva em conta seus interesses imediatos. Mais do que ninguém, eles contribuem para a degradação política e o atoleiro moral que atinge uma das mais importantes instituições políticas do País.

Por mais que se fale a respeito e por mais que organismos como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal comprovem que as denúncias são fundamentadas, merecendo uma investigação rigorosa, tudo permanece na mesma, enquanto as comissões parlamentares do Congresso não fazem nada para apurar os fatos. Tudo é arquivado como se os casos não tivessem qualquer relevância, numa verdadeira desfaçatez para com o povo brasileiro. A falta de brio, a ganância desenfreada, o despudor moral e o senso de impunidade produziram ao longo dos anos, entre a maioria da classe política, um esquema de coisas sinistras jamais visto no Brasil. Em muitos casos, além da mediocridade daqueles que não têm convicções políticas e não honram a palavra empenhada com a sociedade, ao contrário do fio de bigode que prevalecia antigamente, o que se vê é o dinheiro que deveria ser destinado para socorrer os aflitos, construir escolas, hospitais, estradas e promover em larga escala o desenvolvimento nacional, sendo desviado para engordar muitas contas bancárias.

Se não fosse tanta a passividade dos brasileiros e a falta de mobilização dos caras pintadas de outros tempos, com certeza os políticos não estariam infelicitando a vida da Nação e dando boas gargalhadas às custas de quem realmente produz para o bem do Brasil. Antes de mais nada, cada pessoa deveria aproveitar os descalabros atuais para exercer a verdadeira cidadania. A crise é uma excelente ocasião de reflexão para todos e uma oportunidade para mudanças de rumos. Enquanto todos permanecerem de braços cruzados, os políticos vão continuar rindo à toa e nada de melhor vai acontecer.