sexta-feira, 18 de junho de 2010

Times sensações da Copa são moldados em torneios de base

Triunfar em mundiais juvenis de seleções pode explicar sucesso de equipes como México e Suíça. Argentina tem dez ex-campeões

Foto: Getty Images

Messi cobra pênalti que garante o título mundial sub-20 em 2005 para a Argentina

A imagem ao lado não é do jogo Argentina e Nigéria, disputado sábado passado em Joanesburgo. Afinal, Messi não cobrou pênalti na vitória por 1 a 0. O gol (sim, a bola entrou) foi marcado em 2005, na decisão do Mundial Sub-20, na Holanda. Os argentinos venceram os nigerianos por 2 a 1 e levantaram a taça, feito que repetiram dois anos depois, no Canadá.

Ter sucesso em mundiais juvenis organizados pela Fifa pode render boas atuações em Copas do Mundo. Das seleções que se destacaram até o momento na África do Sul, pelo menos seis (incluindo o Brasil) chegaram às semifinais nos últimos campeonatos sub-17 e sub-20. Uma conquista surpreendente como a do México, campeão sub-17 em 2005, no Peru, apresentou resultado cinco anos depois – a vitória por 2 a 0 sobre a França, pelo Grupo A, praticamente carimbou a vaga às oitavas-de-final.

“Você já sabia que aquele time poderia render bons jogadores. Jogávamos por música”, disse o atacante mexicano Carlos Vela. Ele é um dos quatro remanescentes da equipe que está em solo africano. Vela, por sinal, foi o artilheiro do mundial peruano, com cinco gols, que terminou de forma arrebatadora para os mexicanos e desastrosa para os brasileiros: 3 a 0 na decisão.
Vela fez o primeiro.
Os argentinos se superam em ter jogadores campeões na base em sua atual seleção: são dez atletas na convocação de Maradona. Começa em 1991, quando Verón foi terceiro colocado no Sub-17 da Itália, passando por Samuel, campeão sub-20 em 97, na Malásia, e finalizando com o goleiro Romero, o atacante Aguero e o meia Di Maria, vencedores em 2007, no Canadá. Talvez por isso somente "os hermanos" venceram dois jogos nesta Copa até agora.

Messi, aliás, tinha idade para jogar esse torneio, mas já era considerado fenômeno do Barcelona e ficou fora. Dois anos antes, o campeonato do gol descrito acima, ele participou para acabar de vez com especulações de que poderia se naturalizar espanhol e defender a "Fúria". Pela regra da FIFA, se jogar campeonato júnior por uma seleção não pode vestir outra camisa.

“Sempre tive prazer em defender a camisa da Argentina”, disse Messi, acusado em seu país de ser mais espanhol do que argentino. Culpa das atuações irregulares antes da Copa pela seleção e por ter saído do país com apenas 11 anos.


Foto: Getty Images

Alexis Sanchez em ação no Mundial sub-20 de 2007, quando o Chile terminou em terceiro. Na estreia chilena na Copa, Sanchez foi o destaque

Atuais campeões sub-20, Gana tem quatro jogadores que levantaram a taça no Egito: o atacante Dominic Adiyiah foi o craque daquela competição, mas hoje é reserva. O meia André Ayew foi titular na vitória de 1 a 0 sobre o Japão, o único triunfo africano na primeira rodada. Talvez a queda de produção dos africanos em competições de base explique a má fase no profissional. Eles tradicionalmente se davam bem (teorias, não comprovadas, dizem que falsificação de idade ajudaria) - só no sub-17 são cinco títulos em 13 torneios, mas a maioria até 1995, justamente quando a Fifa passou a averiguar melhor a documentação dos garotos.

“O entrosamento que pegamos na base ajuda muito”, disse o meia Arturo Vidal. São cinco chilenos terceiros colocados no Canadá em 2007 na convocação de Marcelo Bielsa. Todos foram titulares no 1 a 0 sobre Honduras.

A Alemanha perdeu para a Sérvia na segunda rodada, mas na primeira jogou o melhor futebol ao aplicar 4 a 0 na Austrália. O time não tem tradição nos mundiais de base: ganhou um faz tempo, em 1981. Mas foi terceiro no sub-17 de 2007 e tem um jogador daquele time na Copa: o meia Toni Kroos, de 20 anos.

Mas a geração de 20 anos não pode ser desprezada, porque se não ganha o mundo, leva o continente. Em 2009, os alemães foram campeões europeus sub-21 e quatro daqueles jogadores (contando Kroos) estão no time: os defensores Jerome Boateng e Holger Badstuber e o meia Thomas Mueller, 20 anos, a sensação na estreia.

Brasil
Dunga convocou dois campeões sub-20 em 2003, nos Emirados Árabes: Nilmar e Daniel Alves. São os únicos deste time que tiveram sucesso na base. Paulo Henrique Ganso foi vice no Mundial sub-20 de 2009, no Egito, e Neymar, no sub-17 da Nigéria, não passou da primeira fase. E o treinador usou o fracasso de um (Neymar) e a irregularidade do outro (Ganso) com a amarelinha como um dos motivos para excluí-los da lista, apesar do apelo popular.

Dunga esnobou a garotada, mas ele foi campeão em 1983, sub-20 no México, ganhando da Argentina na final. Ao seu lado estava o fiel escudeiro Jorginho, hoje auxiliar-técnico. “Não tenho que levar jogador novo para uma Copa para ganhar experiência. Eu tenho que ganhar essa Copa”, disse Dunga, no dia da convocação, em 20 de maio.

A Suíça
Quem pode brilhar em 2014, no torneio que será disputado no Brasil? Olho na Suíça. Mas não porque os europeus venceram a Espanha na África, 1 a 0, na grande zebra da Copa até o momento. No campeonato que Neymar e o Brasil fracassaram, os suíços venceram (inclusive batendo os brasileiros por 1 a 0 na primeira fase). E sabe quantos jogadores daquele time estão jogando a Copa? Nenhum.

Isso mesmo. A geração que colocou a Suíça no mapa de campeões de futebol não teve oportunidade. Ottmar Hitzfeld, treinador do profissional, não usou argumentos como o de Dunga. Apenas preferiu poupar a garotada. O triunfo suíço em 2009 foi a comprovação do sucesso da mistura de raças: sobrenomes como Hajrovic, Rodriguez, Ben Khalifa e Xhaka se assemelham aos Fernandes e Shaquiri do time principal. Esta pode ser a receita para daqui a quatro anos.

Foto: Getty Images

Garotos suíços festejam o título mundial sub-17em 2009,

na Nigéria

(Marcel Rizzo, iG São Paulo)

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