sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Bienal do Livro de São Paulo espera público de 700 mil pessoas

Promotor fantasiado posa com os estandes montados no Anhembi, em São Paulo, ao fundo

Foto: AE

Para um evento que abre as portas ao público numa sexta-feira 13, nada mais adequado que atrações ligadas ao sobrenatural. A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo inaugurou sua programação, às 13h de hoje, com uma palestra de José Mojica Marins sobre seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão.

A previsão é que 700 mil pessoas passem pelos estandes montados no Pavilhão do Anhembi até o dia 22 de agosto. O investimento para essa edição foi de R$ 30 milhões, contra R$ 22 milhões da Bienal de 2008. A programação também ficou mais extensa: 1100 horas, contra 700 horas da edição anterior. Segundo Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro, o evento terá quatro temas principais: os escritores Monteiro Lobato e Clarice Lispector, a lusofonia (identidade cultural entre os países de língua portuguesa) e o livro digital.

O livro digital, por sinal, foi tema de um fórum realizado essa semana em São Paulo, como uma espécie de aquecimento para a Bienal. A principal estrela do evento foi o americano Mike Schatzkin, fundador da Idea Logical Company, uma das principais consultorias do mundo na área editorial. Durante cerca de uma hora, ele falou sobre o futuro do livro num mundo em que aparelhos como o Kindle e o Ipad são cada vez mais comuns. Segundo ele, daqui a cinco anos os livros digitais representarão entre 60% e 70% do mercado nos Estados Unidos.

No Brasil, isso deve demorar mais para acontecer. "Há algumas barreiras, e a principal delas é o alto custo do hardware", afirmou, referindo-se aos e-readers (aparelhos para leitura de livros digitais). Shatzkin, que diz não ler nada em papel há três anos e meio, acredita que o mercado editorial passará por uma grande transformação por causa dos livros eletrônicos. "Num mundo de livros de papel, é preciso ter um conhecimento específico desse formato, e também capital para imprimir e distribuir", explica.

"Com a internet, tudo isso muda. Não se vende mais um formato, vende-se arquivos. Eles podem ser livros, músicas, programas. Não há mais necessidade de um conhecimento específico do formato", continua. "Isso vai forçar as editoras a mudar o modo que elas trabalham. Elas terão que focar seus esforços no conteúdo e se especializar em alguma área. Isso as aproximará do público e diminuirá os custos de publicidade e promoção. Grandes editoras que publicam de tudo terão dificuldades no futuro", prevê.

Foto: Futura Press

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, na Bienal do Livro de São Paulo

O livro digital também foi tema de debates na Festa Literária de Paraty, que terminou no último domingo. “Não acredito na morte do livro impresso nas próximas décadas. Haverá apenas uma diminuição na importância dos livros em relação a outras maneiras de comunicar”, afirmou o historiador Peter Burke. O também historiador Robert Darnton acredita em usos específicos para os livros eletrônicos: “todos usarão leitores digitais para alguns propósitos”. Para ele, “o livro digital e o impresso fortalecem um ao outro”.

Outro tema que promete mobilizar debates durante a feira é a nova lei de direitos autorais. A proposta do Ministério da Cultura, ainda em fase de consulta pública, prevê algumas mudanças que vêm causando polêmica no mercado editorial. Por exemplo, a permissão de cópias de livros para fins educacionais ou de obras esgotadas. "A indústria do livro no Brasil é um modelo de excelência", acredita Rosely Boschini. "A nova lei tem que manter essa indústria forte, tem que respeitar a propriedade intelectual".

A presença destes temas polêmicos mostra que o objetivo da Bienal é deixar de ser apenas um acontecimento importante para o mercado editorial e tornar-se referência na discussão de assuntos importantes da cultura e da educação no Brasil. "Na comparação com edições anteriores, a programação tem um filtro muito maior", admite Augusto Massi, um dos curadores do evento.

Entre os destaques da feira estão a iraniana Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã, e o norueguês Jostein Gaarder, do best seller O Mundo de Sofia. Também participam personalidades de língua portuguesa como o angolano José Eduardo Agualusa, o moçambicano Mia Couto e o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes, diretor do documentário José & Pilar, sobre a relação de José Saramago e sua esposa Pilar del Río.

Serviço – 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Pavilhão de Exposições do Anhembi
Avenida Olavo Fontoura, 1209, Santana
Abertura ao público em geral de 13 a 22 de agosto
Ingressos: R$ 10 (estudantes e professores pagam R$ 5)
Horário: das 10h às 22h

(Augusto Gomes, iG São Paulo)

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