"Entende a Casa de Machado de Assis que qualquer tentativa radical de modificação desse quadro relacional é extremamente complexa e delicada." O Ministério da Cultura apresentou para debate público, no dia 14 de junho, um texto que expõe o anteprojeto de lei que moderniza a Lei de Direitos Autorais (9.610/98) do País. Desde então, mais de 5 mil contribuições já foram apresentadas, e a proposta foi debatida por músicos, sindicatos, associações, artistas visuais, compositores, editoras e escritores, entre outros.
Marcos Souza, diretor de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura, disse hoje ao Grupo Estado que recebeu a carta da ABL e "concorda 100%" com a demanda da entidade, mas acha que pode haver algum tipo de mal-entendimento do texto. "Se for devido ao artigo que prevê as licenças não-voluntárias, nós entendemos a inquietude da ABL, que já foi manifestada por outras entidades. Mas isso não é coisa estranha ao direito autoral, está na Convenção de Berna, que o Brasil segue, e vários países possuem esse dispositivo. Não é algo que a gente está inventando sem parâmetro."
Souza admitiu que a redação desse artigo poderá ser reformulada. O MinC reconhece que o texto pode dar margem a interpretações erradas e deverá rever a redação. Souza afirmou "agradecer a disposição de diálogo da ABL" e disse que deverá divulgar resposta à academia. O lado de fora da academia também começou a se mobilizar em torno do novo projeto. Na terça-feira, na sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, escritores se reuniram pela primeira vez com representantes do MinC para avaliar a proposta do executivo. "Os escritores precisam acordar para essa discussão. Estamos lidando cada vez mais com grandes corporações, altamente lucrativas e profissionalizadas. O editor vive do seu trabalho. O livreiro vive do seu trabalho. Por que somente o escritor é tratado como um amador?", disse o poeta Ademir Assunção.
Além dele, estiveram por lá os autores Daniel Galera, Bráulio Tavares, Geraldinho Carneiro, Marcelino Freira, Marçal Aquino, Joca Terron e Lourenço Mutarelli. A reunião não foi conclusiva por falta de tempo, haverá outro encontro, ainda sem data. A demanda dos escritores é substancialmente diferente da dos livreiros e editores. Eles consideram que o mercado editorial sempre alegou que os custos de impressão, papel e distribuição do livro impedem uma remuneração maior do que 10% de direitos. "O autor da obra ficar com apenas 10%, enquanto 90% vai para aqueles que a vendem, me parece muito desproporcional. Com o livro digital, então, esses custos não existem. Nada justifica manter os direitos autorais em 10%", afirmou Assunção. (Jotabê Medeiros - AE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário