sexta-feira, 23 de abril de 2010

Governo pode assumir sozinho construção de Belo Monte


Em meio às ameaças da construtora Queiroz Galvão em deixar o consórcio Norte Energia, que venceu o leilão para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o governo, por meio das estatais, poderá assumir sozinho a construção da usina. Nós, enquanto Estado brasileiro, empresa pública, faremos sozinho (a usina) se for necessário, disse.

Segundo Lula, no consórcio, pode entrar e sair quem quiser. No leilão, entra quem quer e sai quem quiser, depois (da licitação). Não tem nenhum cadeado na porta. Não tem problema, disse o presidente. Nos bastidores, no entanto, Lula tem dito não acreditar que a Queiroz Galvão vá deixar o consórcio. Sobre os interesses das construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa, que desistiram do leilão, mas mostraram interesse em participar da obra como construtoras, o presidente disse: Podem ajudar. É só querer.

Lula rebateu críticas de que o empreendimento irá afetar a região da Amazônia e as comunidades ribeirinhas e disse que o atual projeto da obra prevê um reservatório 60% menor que o previsto originalmente e que serão investidos R$ 3 bilhões para evitar impactos ambientais. Ele disse que os críticos reclamam até mesmo do preço da tarifa de energia, considerado por ele como barato. Eu achei fantástico (o preço), disse.

Lula ainda reclamou dos que disseram que o governo tem interesse eleitoral com a obra. Eu ouvi um cidadão dizer que isso foi político. Quem não fez política fez o apagão, disse, referindo-se ao governo anterior. As usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio são coisas que nossos adversários torcem para não dar certo.

Lula ainda citou a importância do empreendimento para a economia do país. Um país que quer ser a quinta economia do mundo e oferecer ao investidor energia, tem que pensar cinco anos para a frente. E é por isso que estamos fazendo essa (Belo Monte), Santo Antônio, Jirau, Estreito e o Complexo do Tapajós, disse.

Índios divulgam novo manifesto

Os índios do Xingu divulgaram ontem um novo manifesto, afirmando que estão prontos para a guerra contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Nosso açougue é o mato e nosso mercado é o rio. Não queremos mais que mexam nos rios do Xingu e nem ameacem mais nossas aldeias e nossas crianças, que vão crescer com nossa cultura, diz o documento em nome de 62 lideranças indígenas de 16 tribos da região localizada entre os municípios de São Félix do Xingu e Novo Progresso, no Pará.

Os caciques caiapós Bet Kamati e Raoni, que assinam o manifesto, lembram que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou na semana passada que ele se preocupa com os índios e com a Amazônia, e que não quer organizações não-governamentais internacionais falando contra Belo Monte.

Acontece que nós não somos ONGs internacionais, somos indígenas que estamos brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, mas lutamos também pelo futuro do mundo, rebatem. Eles não aceitam Belo Monte porque entendem que a usina irá causar mais destruição à região.

Segundo Bet Kamati, os índios não estão pensando somente no local onde o governo pretende construir a barragem, mas em toda a destruição que a hidrelétrica poderá trazer no futuro.(Leonencio Nossa, Denise Marin e Carlos Mendes - Agência Estado (AE)

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