Cansados da rotina de trabalhar e pagar contas, Franco Hoff e Inês de Calixto queriam dar um sentido novo à vida. Assim, traçaram o roteiro de uma jornada pelas entranhas do Brasil. Primeiro pensaram em comprar um carro que aguentasse o ritmo da viagem e ainda lhes servisse como casa. O destino conspirou e eles se depararam com ‘Alice‘, uma espécie de kombi home projetada por um outro casal que tinha o mesmo plano, mas acabou desistindo.
Com a ajuda dos amigos e da família, o projeto ganhou força, o casal juntou dinheiro e, em maio, partiu de São Paulo rumo à cidade de Aguaí, no interior do Estado. Continuam a explorar várias partes do Brasil. Tudo isso em três anos. “Queremos levar cultura em forma de oficinas de cinema, literatura e fotografia para moradores de comunidades”, conta Inês, encantada com o pouco que já viu.
Franco, 36 anos, é um fotógrafo apaixonado por cultura popular. Inês, de 47, é uma pedagoga que aprecia o contato com o povo. Chico é o mascote do casal, um boneco que Inês encontrou em um aeroporto. O casal pretende fotografar e coletar causos de protagonistas das cidades por onde passarem. Querem entender o modo de vida das pessoas e sua relação com a arte, música, dança, religião, tempo, lazer e trabalho. Quando voltarem, devem publicar três livros: um de fotografia, outro de causos e o diário da viagem.
Os próximos destinos são algumas cidades do estado de Minas Gerais, na região do Vale do Jequitinhonha. Depois vão seguir o curso do Rio São Francisco e, do Maranhão, irão para o Norte do País, passando depois pelo Centro-Oeste. Por fim, chegarão ao Sul. Para pagar os custos, escrevem textos para a Editora Saraiva e para a revista ‘National Geographic‘. E se faltar dinheiro, o combinado é fazerem uma pausa para trabalharem e, depois, continuarem a jornada.
A viagem tem sido intensa e o roteiro já sofreu pequenas mudanças por indicação de seus novos amigos. Em São Roque (SP), ouviram falar de Paim - onde passaram 10 dias e conheceram algumas das 1.200 grutas do local. Desemboque (MG), a terra do ator Lima Duarte, um lugar onde vivem oito famílias, também não estava no roteiro. Contam que lá aprenderam coisas lindíssimas e conheceram pessoas inesquecíveis, como o Senhor Estevão, um garimpeiro de 83 anos, veterano da Segunda Guerra Mundial. O que chamou a atenção de Inês foi a disparidade social nas cidades construídas sobre minas de ouro, mas que são absolutamente pobres.
O único problema é que, a cada lugar aonde chegam, têm de começar tudo do zero. Desmontam a casa, apresentam o projeto para os moradores e, aos poucos, conquistam a confiança. O legal é que, intencionalmente, não mapearam tudo sobre esses territórios para não se influenciarem. “Sabemos algumas coisas. O resto vamos conhecendo”, divaga Inês. Ela diz que tem aprendido muito. E mesmo com toda a dificuldade de ter deixado sua casa, livros, TV, sapatos de salto alto para viver dentro de uma kombi, longe da família e dos amigos, sente-se recompensada. “Tenho recebido muito mais do que doado. As despedidas são dolorosas. Nem sei explicar”, emociona-se.
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