quinta-feira, 27 de maio de 2010

Maestro Ostergren rege a Sinfônica de Sorocaba

Obras de Ludwig van Beethoven e de Healey Willian integram o repertório do concerto que a Orquestra Sinfônica de Sorocaba (OSS) realiza nesta 5ª feira (27), a partir das 20h, na Sala Fundec. Sob regência do maestro Eduardo Ostergren, a apresentação conta com um convidado especial: o pianista Alexandre Zamith, bacharel em música pela USP e mestre em artes musicais pela Unicamp. Premiado em concursos nacionais de piano e música de câmara, Zamith tem se apresentado com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), com a Orquestra Filarmônica de São Caetano do Sul e com a Orquestra Sinfônica da Unicamp, entre outras. Além de suas atividades como instrumentista, atualmente é professor da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais.

O concerto conta com a apresentação da obra “Concerto para piano n° 4 em Sol Maior, op. 58”, em três movimentos, de Beethoven. Este último considerado o mais complexo da obra do compositor, de acordo com o maestro Ostergren. Ele, que foi regente da Orquestra Sinfônica durante sete anos até o final de 1999, volta com entusiasmo para realizar novos projetos. Durante essa pausa de 10 anos, a Orquestra ficou sob o comando de Jonicler Real. Conforme Geraldo Ricci, presidente da Fundação de Desenvolvimento Cultural (Fundec), mantenedora da Orquestra, a saída de Jonicler Real deu-se por conta de uma proposta de renovação da Orquestra.

“O Jonicler é um grande maestro, grande profissional, mas chegou um momento que queríamos trazer novos desafios, criar novas motivações para a Orquestra. A Fundec está passando por uma reestruturação geral na parte artística e essa área de regência também foi incluída. Antes era tudo unificado, ou seja, os corais, a orquestra do Instituto Municipal de Música e a Orquestra Sinfônica estavam sob um único comando, agora passam a ter três regências diferentes. O que aconteceu foi uma mudança na forma de trabalho, uma decisão de gestão mesmo.”

Sobre a proposta de convites para outros maestros apresentarem-se com a Orquestra Sinfônica, iniciada no começo deste ano, Ricci afirma que será mantida: “Vamos ter um maestro fixo, que é o Ostergren, que atua ainda como assessor artístico, mas também vamos ter maestros convidados. Essa é uma tendência das orquestras de hoje. Temos de ter um maestro fixo para manter uma linha de trabalho, uma identidade, e para o próprio desenvolvimento dos músicos, mas os convidados vêm para somar a esse trabalho”.

Vasto currículo

Regente titular e assessor artístico da Orquestra Sinfônica de Sorocaba, Eduardo Ostergren tem um vasto currículo na música erudita. É graduado em música pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, mestre em música pela Southern Methodist University (Dallas, Texas) e doutor em música pela Indiana University.

Já regeu inúmeras orquestras nos Estados Unidos e na Europa. Em 1995, foi designado cônsul honorário do Brasil para o Estado de Indiana, cargo diplomático complementar à sua carreira artística. Ao regressar ao Brasil, em 1993, recebeu do governador de Indiana a comenda “Sagamore of the Wabash”, por sua contribuição artística ao Estado. Sua experiência musical internacional também invade a área acadêmica: foi professor nas universidades da Carolina do Norte e de Purdue, nos Estados Unidos. Entre as diversas homenagens que recebeu ao longo de sua carreira, Ostergren foi agraciado em 2007 com a medalha de Comendador da Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes.

Atualmente, além do trabalho à frente da Orquestra Sinfônica de Sorocaba, é docente no Departamento de Música do Instituto de Artes da Unicamp, diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Unicamp e regente titular da Orquestra Sinfônica de Bragança Paulista. Há dez anos, o maestro pediu afastamento da Orquestra Sinfônica de Sorocaba para assumir como professor titular de regência na Unicamp em regime de tempo integral. Agora, com maior flexibilidade de horário e permissão da Unicamp, Ostergren conseguirá se dedicar às duas atividades. Em entrevista ao Mais Cruzeiro, o maestro fala sobre as propostas que tem para a orquestra, entre elas a realização de um Concurso para Jovens Talentos. Confira:

P - Você ficou afastado da Orquestra Sinfônica de Sorocaba por dez anos. É possível elencar as transformações que o grupo passou nesse período?

R - Na época que fui maestro da orquestra, de 1993 até o final de 1999, tanto a Orquestra Sinfônica como o Instituto Municipal de Música ainda não estavam muito consolidados e então começou a haver uma preocupação pedagógica e acadêmica. Também vinha muito músico de São Paulo naquela época, o problema é que eles não tinham dedicação, devoção e empenho com a orquestra. Mas na reestruturação esses músicos foram se afastando e vieram novos profissionais, com mais energia e mais disposição. Agora a orquestra está totalmente modificada e é para mim uma grande alegria fazer música com esse pessoal. Tudo isso aconteceu através de um processo de consolidação da atual Fundec, que está prestando atenção a essa parte educacional através do Instituto Municipal de Música. Temos agora na orquestra mais músicos sorocabanos e os que não eram da cidade mudaram-se para cá. A orquestra está com personalidade própria e bem mais definida do que antigamente.

P - Quais são os seus projetos para a orquestra?

R - Tenho vários projetos. Quero solidificar a orquestra no que diz respeito ao quadro de músicos. Temos algumas vagas que abriram nestes últimos tempos e a minha preocupação é completar o quadro. Quero desenvolver o repertório em vários sentidos, principalmente um repertório clássico que atenda a um público voltado à música erudita. Por outro lado, também pretendo atender aqueles que gostam de um repertório mais leve, popular. Parte desse plano que tenho para a orquestra também é de possibilitar a realização de um Concurso de Jovens Talentos. Eu gostaria de identificar na comunidade um trompetista, alguém que toque trombone, piano, mas que fosse escolhido através de concurso para se apresentar em concerto com acompanhamento da nossa orquestra. Seria uma maneira de reconhecer talentos e recompensá-los com um prêmio em dinheiro ou bolsa de estudos. Com certeza já a partir de agosto, setembro, vão ter coisas acontecendo. Tudo isso que falei é para um futuro bem próximo, mas para isso é preciso de recursos financeiros.

R - A Fundec tem uma proposta que envolve inclusive um grupo de diretores e patronos que querem desenvolver uma estrutura envolvendo doações e benemerência por parte do empresariado. A orquestra faz parte da comunidade e em troca a comunidade precisa apoiar a orquestra. O empresariado local tem muito recurso e precisa compartilhar conosco a responsabilidade pelo aspecto cultural da cidade. Cada vez que a orquestra se reúne para ensaiar custa alto e não é o suficiente o apoio financeiro recebido da Prefeitura... Temos diversos gastos e entre esses custos estão até mesmo as músicas para os concertos. Por exemplo para adquirir a “Quinta Sinfonia de Beethoven” (que já temos) o preço é US$ 350. Entretanto, se formos executar peças de Villa Lobos, tem algumas que não são nem vendidas, são alugadas. Tem ainda o salário dos músicos, obrigações trabalhistas e manutenção dos instrumentos...

P - Pretende manter o trabalho didático que já vinha sendo realizado?

R - Pretendo sim, por sinal tem existido uma cobrança e uma expectativa por parte do público para que eu teça comentários antes de apresentar a música. Quando chegar o momento favorável, eu gostaria de encontrar com o público uma hora antes para discutir aspectos sobre música e especialmente responder perguntas, esclarecer dúvidas... Eu ainda tenho uma ligação com uma orquestra de Indiana, nos Estados Unidos, da qual sou regente emérito, e lá inaugurei um programa chamado Momentos com o Maestro, realizado uma hora antes do concerto. É uma coisa maravilhosa poder compartilhar informações e pretendo implantar aqui. Quero conhecer melhor o meu público para então corresponder às expectativas. Eu peço para que me parem na rua por favor, estou disponível, me peguem pelo braço e assim poderei saber o que querem.

P - Como está conciliando as atividades de diretor artístico e maestro da Orquestra Sinfônica de Sorocaba e professor de regência na Unicamp?

REntão, minha ligação com a Fundec teve início no começo de janeiro, mas a atuação mesmo como regente foi agora em abril. Minha vinda para a Fundec tem muito a ver com uma parceria que a entidade quer fazer com a Unicamp, é uma parceria no sentido de que a Unicamp vai fornecer know how e professores na parte pedagógica e os professores do Instituto Municipal de Música da Fundec vão poder planejar parceria.

SERVIÇO:

Concerto da Orquestra Sinfônica de Sorocaba, com participação do pianista Alexandre Zamith. Hoje, às 20h, com reapresentação no domingo, às 18h. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados na Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro) com uma hora de antecedência. Informações: (15) 3233-2220 ou pelo site www.fundecsorocaba.com.br. (Daniela Jacinto- Jornal Cruzeiro do Sul

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