sábado, 25 de julho de 2009

Futebol E Suas Aberrações

No PAÍS em que a crise internacional vem trazendo impactos devastadores sobre a economia interna, provocando a demissão de milhares de trabalhadores, a exemplo do que ocorre atualmente com a ZF do Brasil em Sorocaba, além de ter grandes parcelas da população vivendo na míngua e lutando de todas as formas por uma sobrevivência digna, morrendo nos corredores dos hospitais públicos por falta de atendimento médico adequado; num País onde crianças e adolescentes se aventuram cada vez mais cedo em direção ao mundo das drogas e da criminalidade, empurrados pela necessidade de conseguir algum dinheiro, e onde aposentados ganham uma ninharia após anos e anos construindo a grandeza da Nação, sem se falar dos milhares de jovens que se formam anualmente nas universidades e não encontram emprego nem como auxiliar de faxineiro; num País em que cientistas e pesquisadores são requisitados para trabalhar no exterior porque por aqui o seu valor não é reconhecido, e onde os professores são humilhados pelos baixos salários que recebem, apesar de tudo aquilo de bom e de útil que representam para a sociedade, não deixa de ser VERDADEIRO ABSURDO um técnico de futebol ganhar R$ 450 mil por mês, além de premiações, direito de imagem e outras mordomias.

Isto acontece justamente em um País onde os problemas sociais se agigantam diariamente e os governantes, em seus confortáveis gabinetes, dizem não existir dinheiro para melhorar as coisas, apesar dos pesados tributos que todos pagam.

Acontece num País em que todos vivem uma total insegurança, entregues à própria sorte e não sabendo se conseguirão chegar vivos em casa após um dia de trabalho estafante.
Definitivamente, estamos diante de uma anacrônica e perigosa inversão de valores que vai tendo conseqüências desastrosas sobre a sociedade brasileira.

Esse fato, medonho sob todos os aspectos, não deixa de ser uma desfaçatez, além de um golpe fatal contra todos que trabalham e produzem para o bem do Brasil.

Uma pergunta que normalmente ninguém faz: o que o futebol oferece de concreto para que o Brasil possa melhorar em todos os aspectos, trazendo, principalmente, benefícios às camadas mais pobres da população? Nenhum.

Muitos podem contra-argumentar que ele traz alegria ao povo sofrido. É verdade, até porque, como todo mundo sabe, o futebol é a grande paixão dos brasileiros.

Mas esse benefício é muito pouco, principalmente para as pessoas mais necessitadas e que lutam desesperadamente para sobreviver num País onde as desigualdades e as injustiças sociais prevalecem de forma tão ostensiva.

Quando a Seleção Brasileira ganha uma Copa do Mundo, o que é que muda na vida do brasileiro? Ele passa a ganhar um pouco mais? O seu imposto é anistiado? A passagem de ônibus diminui? A assistência médica melhora?

Não são poucos os que reclamam do lucro dos empresários no Brasil. Só que eles trabalham, produzem, correm riscos, pagam impostos exorbitantes e dão emprego para milhões de trabalhadores, contribuindo para o fortalecimento da economia nacional.

Falar o que, por exemplo, de um empresário do porte de Antônio Ermírio de Moraes, que produz bens que todo o Brasil utiliza e emprega cerca de 50 mil pessoas em suas empresas, além de pagar milhões e milhões de reais em tributos para o governo destinar aos serviços públicos essenciais?

Times como Palmeiras, Corinthians, Santos, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Internacional, Grêmio, Atlético-MG, Cruzeiro, Bahia, Vasco entre outros, produzem tanto quanto os empresários? Além de não produzirem nada, ainda vivem às custas dos torcedores e do governo, que inclusive criou a Timemania, loteria para auxiliar os clubes endividados, apesar de toda a arrecadação que conseguem através dos estádios cheios, dos patrocinadores, do dinheiro pago pelas emissoras de televisão e da venda de jogadores.

Quantos não são os dirigentes que ganham com tudo isso? Pior ainda: os torcedores morrem e matam dentro e fora dos estádios de futebol.

Alguém pode dizer que em outros países fanatizados pelo futebol acontece a mesma coisa. Esta afirmação também está correta. Só que na Itália, Espanha, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Holanda e França, entre outros, o valor do trabalhador é amplamente reconhecido. Todo mundo ganha bem e vive bem, desfrutando de serviços públicos de alta qualidade. Lá fora ninguém morre de fome e nem nos corredores dos hospitais, como acontece por aqui.

Se um técnico de futebol ou jogador pode valer tanto, quanto não valem os cientistas que descobrem vacinas contra a paralisia infantil, a dengue ou a gripe suína? Quanto não vale um médico que estuda por mais de 15 anos para salvar vidas? Quanto não vale um engenheiro que projeta grandes edifícios, viadutos, pontes e pontilhões? Quanto não vale um coletor de lixo que, noite adentro, no frio e na chuva, leva toda a sujeira que a população produz?

O fotógrafo profissional Teófilo José Negrão Duarte, que há mais de 35 anos atua no ramo, manifestou toda a sua indignação alguns dias atrás em um jornal da cidade: "Trabalho o dia todo, cumpro com as minhas obrigações, pago imposto que não acaba mais e no final do mês ainda tenho mais contas a pagar. Que motivação posso ter para continuar fazendo o que faço? Que motivação outros milhões de trabalhadores como eu podem ter para continuar desenvolvendo suas atividades profissionais, enquanto um técnico de futebol ganha mais de R$ 450 mil por mês? Está tudo errado e ninguém vê isso, nem mesmo a própria sociedade. O Ministério Público Federal deveria atentar para tudo o que ocorre no futebol brasileiro".

Se os governantes, as autoridades constituídas, a classe política e a sociedade brasileira fossem mais conscientes, responsáveis, inteligentes e defensores intransigentes dos direitos de todos os brasileiros, certamente absurdos dessa natureza deixariam de existir.

Nenhum comentário: