Mais do que uma manifestação franca ou sincera, a frase política da semana carrega outros dois componentes: certeza de impunidade e desfaçatez com o cidadão, com a cidadania. A referência é mesmo com a declaração do deputado federal Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul e relator do processo por quebra de decoro parlamentar aberto contra Edmar Moreira (deputado federal por Minas Gerais, sem partido político). Cabe explicar que Edmar é acusado pelo Psol de usar irregularmente verba indenizatória, ele teria justificado gastos com pagamentos feitos para empresas de segurança de sua propriedade.
O relator Sérgio Moraes tentou argumentar, na defesa de seu companheiro acusado, que Edmar está sendo usado como “boi de piranha”. E chegou a citar que o episódio poderia lançar uma espécie de cortina de fumaça nas denúncias de uso indevido de passagens de avião de integrantes do Congresso para os parentes e amigos de deputados e senadores. Em outras palavras, sugeriu Sérgio Moraes que os congressistas estão tentando mudar o foco do problema, colocando no centro das atenções o deputado Edmar Moreira.
O surpreendente é que, perguntado por repórteres se ele, Sérgio Moraes, não temia a reação dos cidadãos ao defender um deputado acusado de usar irregularmente verba pública. E, justamente, um deputado conhecido já nacionalmente pela propriedade de suntuoso castelo em Minas Gerais, cuja compra foi colocada sob suspeição?
“Estou me lixando para a opinião pública”, reagiu o parlamentar diante da questão. “Os jornais batem, mas sempre somos reeleitos”. Pior ainda, no dia seguinte, não alterou sua linha de conduta. Disse o parlamentar: “Dormi a noite toda, com a consciência tranquila (...)”. E concluiu, soberbo: “A imprensa sempre separa o joio do trigo e publica o joio”.
Embora “se lixe” com a opinião pública, fato é que pesa um bom lote de acusações contra o parlamentar. Por exemplo: no final da década, foi expulso pelo PMDB após acusação de receptação de joias e lenocínio. Na Justiça acabou sendo absolvido. No mesmo período, foi acusado de favorecimento à prostituição, obtendo também absolvição. Já em 2004, consta ter agredido um vereador (Irton Marx) e, para ficar livre desse processo, doou a uma entidade assistencial quantia estipulada em R$ 3.500. Agrediu ainda o secretário da diocese da cidade de Santa Cruz do Sul, mas o crime prescreveu com o tempo. Entre outros processos e acusações, consta ainda o fato de ter instalado telefone público na frente da casa do pai e chegou a ser cassado quando era prefeito da cidade. Voltou ao cargo e o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal.
Blogs e endereços eletrônicos de atendimento a leitores de jornais ficaram entupidos, nos últimos dias, com protestos endereçados ao deputado federal Sérgio Moraes mas, é evidente, lançados igualmente na direção da classe política e, particularmente, aos que têm assento nas cadeiras da Câmara e Senado Federal. No caso, são manifestações mais do que bem-vindas a corroborar com a cidadania viva. A resposta aos parlamentares cínicos (e não francos ou sinceros) deve ser dada nas urnas. A renovação em câmaras e assembléias legislativas com parlamentares de atuação duvidosa (na cidade, estado ou país) é fundamental para o avanço da democracia.
É hora de um basta ao cinismo.
Um comentário:
Olá, Paulo!
Esse senhor merecia receber uma punição muito grande: nunca mais ser eleito para nenhum cargo público.
Abraços
Francisco Castro
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