sexta-feira, 17 de junho de 2011

Operação desmantela quadrilha no CHS

Doze pessoas foram presas entre médicos, enfermeiros, dentistas e até o diretor do Conjunto Hospitalar de Sorocaba



Uma quadrilha organizada por diretores, médicos e funcionários do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) foi desmantelada ontem pela manhã pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Polícia Civil de Sorocaba. Chamada de "Operação Hipócrates" (menção ao pai da medicina), a ação foi iniciada na madrugada de ontem com 37 mandados de prisões temporárias e busca e apreensão em residências e 12 hospitais de Sorocaba, Capital e Grande São Paulo. Ao todo, 12 pessoas acusadas foram presas, apenas uma está foragida - todos médicos, enfermeiros e dentistas vinculados ao Hospital Regional.

Entre os presos estão o atual diretor do CHS, Heitor Fernando Xediek Consani, e os ex-diretores Ricardo José Salim e Antonio Carlos Nasi. A acusação é de que a quadrilha desviava há três anos verbas destinadas aos plantões médicos, com funcionários fantasmas, falsificações de documentos e estelionato, além de favorecimentos de contratos e licitações. Estima-se que mais de 300 mil pacientes da região tenham sido lesados pelo esquema, que possivelmente envolva outros 40 beneficiários, aproximadamente - sendo a maioria residentes em Sorocaba. O secretário de Segurança Pública do Estado, José Ferreira Pinto, acompanhou as ações na cidade. Hoje a polícia deve prosseguir as investigações ouvindo os detidos.

Operação

Segundo o Gaeco de Sorocaba, a investigação foi iniciada em setembro de 2010 após denúncias formalizadas por funcionários do CHS, o que resultou no esclarecimento de crimes atribuídos à quadrilha que estaria agindo dentro do hospital, pelo menos, desde setembro de 2008. De acordo com o Gaeco, a organização criminosa era chefiada pelo ex-diretor do hospital, Ricardo José Salim, e foi herdada por Heitor Consani, que possivelmente teria prosseguido o esquema ao assumir a direção do hospital, em fevereiro deste ano. A acusação é de que a quadrilha desviava as verbas destinadas ao pagamento de plantões a servidores, direcionando-as para beneficiários que, apesar de receber os pagamentos, não cumpriam com as respectivas jornadas de trabalho. As investigações revelaram ainda a existência de funcionários "fantasmas", que supostamente exerciam os plantões, assinados por outros funcionários, o que caracterizou também falsificações e estelionato.

"Isso explica, por exemplo, o atendimento precário divulgado, inclusive, pela imprensa local nesse período. O mal causado por eles é irreparável", disse o chefe do Gaeco, o promotor de Justiça Wellington dos Santos Veloso. Uma segunda vertente das investigações são as suspeitas de fraudes em licitações, com favorecimentos de empresas específicas e compras irregulares, o que acredita-se ter comprometido o atendimento estrutural do hospital, inclusive com a disponibilidade de próteses de materiais precários. "Há provas documentais, ligações e testemunhos de que muitos médicos tinham três ou quatro vínculos empregatícios, o que evidencia a incapacidade de exercer as funções, ao mesmo tempo e em locais diferentes", destacou o promotor.

Prisões

Foram expedidos mandados de prisão temporária também para Célia Chaib Arbage Romani, Marcia Regina Leite Ramos, Tânia Aparecida Lopes, Tarley Eloy Pessoa De Barros, Kleber Castilho, Maria Helena Pires Alberici, Vera Regina Boendia Machado Salim (esposa de Ricardo Salim), Edson Brito Aleixo e Edson da Silva Leite. Apenas Tania Maris De Paiva não foi presa ainda porque não foi localizada. Dentre essas prisões, apenas a de Heitor Consani foi feita em Sorocaba, onde ele reside. Segundo o titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) Sorocaba, José Urban Filho, Consani foi preso em casa, pela manhã, sem resistência. Os demais foram presos, simultaneamente, em suas casas, na Capital. A participação dos envolvidos e suas respectivas funções, na quadrilha, não foram divulgadas.

"Essas prisões foram necessárias para o andamento das investigações", justificou o promotor. Ele acrescentou que há possibilidade de prorrogação no prazo de detenção, de cinco para dez dias, podendo ainda o mandado ser alterado para prisão preventiva por tempo indeterminado. Segundo Veloso, os presos responderão pelo crime de peculato, formação de quadrilha, crimes em licitação, quebra de sigilo da lei de interceptação, tráfico de influência e falsificação de documentos públicos e particulares. "É uma situação chocante. Há gravações que comprovam que muitos médicos não estavam nos plantões de corpo presente, mas recebiam o pagamento", disse o promotor.

Além das prisões, os 24 mandados de busca e apreensão foram feitos em residências e em outros 11 hospitais, situados na Capital e em Itapevi, como Ipiranga e Vila Nova Cachoeirinha, onde o objetivo foi apreender escalas de plantão e controle de ponto dos investigados. Ainda não há estimativa de quanto a quadrilha desviou do hospital, mas segundo a secretária-executiva do Gaeco, a promotora de Justiça Maria Aparecida Castanho, "foram milhões de reais". "Focamos nosso trabalho a partir de setembro de 2008, de acordo com as denúncias e documentos. Mas há contratos prorrogados anteriormente e que deverão ser analisados", afirmou ela. A estimativa do Ministério Público é de que mais de 300 mil pessoas que buscaram pelo atendimento no CHS no período de investigação e possivelmente foram lesadas. "Vamos investigar tudo, inclusive se forem pontuadas mortes ou casos excepcionais de mau atendimento", avisou Maria Aparecida.

Já segundo Veloso, ontem foi cumprida a primeira etapa da Operação Hipócrates, sendo agora a segunda etapa iniciada. "Sabemos que essas treze pessoas comandavam e desenvolviam o esquema. Mas estimamos que outras 40 pessoas estejam envolvidas no caso. A partir de agora faremos uma varredura nos documentos para localizar mais envolvidos; muitos já foram identificados", informou o promotor. Ao menos 20 delegados participaram da ação. O secretário da SSP, José Ferreira Pinto, acompanhou parte dos trabalhos, mas não quis falar sobre o assunto. De acordo com o delegado do GAS, Wilson Negrão, a partir de agora a Polícia Civil, juntamente com o MP, deverá analisar os documentos para formalização das denúncias.
(Leila Gapy - Jornal Cruzeiro Do Sul)

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