sexta-feira, 26 de março de 2010

Fiscal cumpre parte do horário de expediente em casa

Na 5ª feira à tarde, o fiscal sai antes de falar com a reportagem


Foto:Emídio Marques

Diariamente estacionada por horas e em horário de expediente em tranquilas ruas residenciais do bairro Jardim do Sol, Zona Leste, a viatura do setor de Fiscalização chama a atenção. O bem público VW/Gol de chapas brancas BNZ 4457/Sorocaba e identificada pelo prefixo 521 tem o selo do Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES): foi financiada pela Prefeitura com dinheiro público. “Cara, o meu chefe sabe o meu telefone, onde eu trabalho, não só o meu chefe imediato, como o diretor de área, se eu for fazer alguma coisa escondido eles vão saber, nada eu faço escondido, eu trabalho do jeito que me pedem”, tentou defender-se o fiscal responsável pelo veículo, Diogo da Silva Castro, 25 anos. Ele desconhece a meta que precisaria cumprir, mas diz fiscalizar cerca de 30 outdoors por dia. “A gente faz um relatório e eles (chefes) dizem se está razoável ou não”, declarou. A versão da Prefeitura é a de que vai apurar o fato.

Na manhã de 5ª feira (25) a redação do Cruzeiro do Sul recebeu ligação de leitor incomodado, alegando que o fiscal estava com a namorada na residência em horário de expediente. O fiscal, que cursa o quinto ano de Direito, argumentou que a namorada havia passado por lá, foi com o carro dela e ficou no máximo dez minutos. Por e-mail, uma vizinhança que pediu sigilo da identidade chegou a dizer que ele sai com o carro próprio para trabalhar por volta das 7h30, retorna com o carro da Prefeitura e o estaciona perto das 10h e só volta a usá-lo perto das 16h. Após duas semanas registrando imagens do veículo, a reportagem abordou o fiscal às 15h30 de ontem, horário em que costumeiramente costuma sair da residência após horas em casa. Ele caminhava em direção ao carro da Fiscalização estacionado em frente a uma casa vizinha, na rua Eugênio Leite.

Aparentemente nervoso e mais tarde assumindo o fato, Diogo deu versões divergentes: que só havia ido buscar um documento; que acabava de cumprir o horário de almoço; faz parte do trabalho em casa porque falta estrutura na sede da Fiscalização, na rua Aparecida, 144; trabalha o tempo todo na rua; que naquele instante saía para voltar para a sede da Fiscalização e ainda que estava saindo para fazer novas fiscalizações e só depois voltaria à sede. Mas ao ser questionado com quais equipamentos trabalhava, revelou que não estava com a máquina fotográfica. Inicialmente declarou que o equipamento havia ficado com outra profissional que trabalha com ele, de nome Eliete, mas depois, que a máquina estava no interior da casa.

Diogo disse que é funcionário concursado, trabalha na fiscalização há quatro anos e cumpre o horário das 8h às 17h com uma hora de almoço a ser feita a próprio critério, já que segundo ele, os fiscais não passam o cartão de ponto para almoçar. “A ordem que a gente tem é sair 8h30, 9h, ir fiscalizar e voltar no fim da tarde”, explicou. Disse que a função dele é fotografar outdoors, publicidades em muros ou em bens públicos além de panfletagens. Alegou que em casa adianta o serviço fazendo planilhas no computador e imprimindo fotos. Questionado se era incentivado a trabalhar em casa, o fiscal respondeu que é chefiado por Francisco Carlos Corrales que têm ciência de que ele vai em casa para almoçar e quer o trabalho feito. “Se eles (chefes) soubessem eles, não iam permitir”, disse, entrando em contradição.

Segundo Diogo, na Prefeitura não há material suficiente para todos, como computador, por exemplo. Citou que na sede da Fiscalização, não só ele, como outros levam computadores portáteis de casa. “Sabe o que seria hipocrisia minha? Eu sempre fui a favor do trabalho da imprensa, de fiscalizar (...) quando é comigo eu vou bater boca, eu vou brigar? É o trabalho de vocês (...) está de parabéns (...) se procurar vai achar um monte disso”, disse o fiscal no final da entrevista. Há exatos três anos, em março de 2007, o fiscal e estudante de direito foi baleado pelas costas com um tiro de raspão quando chegava em casa à noite, ao retornar da faculdade. Na época ele fiscalizava vendedores ambulantes na região central, onde essa prática era proibida. Já havia sido ameaçado de morte pelos ambulantes. Segundo ele, o processo de tentativa de homicídio ainda corre na Justiça.

Versão oficial

O Cruzeiro do Sul encaminhou 11 questões para a Prefeitura, entre elas, se faltam computadores, se fiscais têm metas e o que garantia existe de que cumprem todo o expediente. “A Secretaria de Administração, Governo e Planejamento informa que, diante das denúncias feitas pela reportagem, determinou a abertura de sindicância para apuração dos fatos informados. Solicitará ainda o comparecimento e a colaboração do jornalista que efetuou a constatação no procedimento que apurará eventual infração ao Estatuto dos Servidores Públicos pelo funcionário, que poderá sofrer as penas da lei acaso confirmada alguma violação dos deveres funcionais, por ele ou por suas chefias.(Jornal Cruzeiro Do Sul - Leandro Nogueira)

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