terça-feira, 17 de novembro de 2009

As Enchentes

Quem estava nas ruas durante o temporal que desabou sobre a cidade na noite de domingo dia 08 de novembro teve a oportunidade de ver um verdadeiro dilúvio de água descendo por avenidas como a General Osório, Eugênio Salerno, General Carneiro, Barão de Tatuí, Armando Salles de Oliveira e ruas da Penha, São Bento, XV de Novembro, Sete de Setembro, Padre Luiz, Hermelino Matarazzo e Nogueira Padilha, entre tantas outras. A quantidade de lixo que rolou junto com o aguaceiro também foi impressionante, o que mostra a necessidade de a administração municipal e a própria população olhar com uma atenção especial o problema da limpeza pública em Sorocaba. O lixo que a correnteza arrasta acaba provocando uma série de problemas, já que entope bocas de lobo e galerias, acelerando as inundações em pontos críticos. Com isso, o que se vê, inevitavelmente, são casas inundadas, lama, goteiras, trânsito lento e outros transtornos conhecidos por todos. A principal preocupação é com as famílias que moram em áreas de risco e que acabam sendo as mais vulneráveis nesta temporada de chuvas, como ocorreu mais uma vez no domingo em prejuízo de 34 famílias de diversos pontos da cidade.

Todos sabem que o crescimento da cidade, a compactação do solo, os bueiros entupidos e a existência de loteamentos que nem sempre seguem as posturas municipais, estão entre as causas que provocam tantos problemas quando as chuvas se tornam mais intensas. E o lixo é um outro fator que muita gente também não leva em consideração, principalmente nas zonas ribeirinhas. Córregos que cortam as áreas urbanas do município, além do rio Sorocaba, é que sofrem com esse tipo de problema, não apenas pela poluição propriamente dita, mas também porque os detritos são grandes responsáveis pelas inundações.

Naturalmente, trata-se de uma questão que deveria ser melhor tratada pelo poder público. Da mesma forma, é preciso responsabilizar os moradores de tantos bairros que não fazem a sua parte para evitar o surgimento dos problemas. A população tem o hábito de jogar lixo em qualquer lugar, ignorando que essa conduta, notadamente nos períodos de chuva, só contribui para entupir as tubulações e provocar enchentes. Se os canais estivessem livres de tanta sujeira, é claro que a possibilidade de inundações seria bem menor. Basta lembrar que, após ser limpo pela Prefeitura há algum tempo, o córrego do Supiriri já se encontra com muita sujeira jogada em seu leito.

O que se observa é que há materiais descartáveis por todos os bairros, inclusive, naqueles considerados nobres, como é o caso do Trujillo e do Vergueiro. Jogam até colchões, sofás e cadeiras imprestáveis nas calçadas e terrenos baldios. Há restos de construção e entulho de toda sorte. E tudo isso, de uma forma ou de outra, deveria ser recolhido o quanto antes pela Prefeitura ou por alguma empresa terceirizada. Além das providências que cabem à administração municipal, também é preciso melhorar a cultura da população. Caso contrário, o problema sempre estará cada vez pior.

Vulnerabilidade

Apesar de todo o potencial que tem e de seu expressivo desenvolvimento econômico nos últimos vinte anos, infelizmente o Brasil, em termos de infraestrutura, é simplesmente uma calamidade. O apagão da noite de terça-feira (10/11/2009) e madrugada de quarta-feira(11/11/2009) reflete muito bem essa realidade. Falta modernidade para o setor. Os anos passam e os governantes brasileiros não se preocupam como deveriam em ver o sistema de energia elétrica como de absoluta prioridade para o País, principalmente em razão de seu grande crescimento. Basta constatar que, na manhã do dia 11 de novembro, as autoridades responsáveis pelo setor ainda não sabiam exatamente o que havia provocado a pane.

Da mesma forma, os governantes não se preocupam em investir na melhoria dos portos, dos aeroportos, das rodovias e ferrovias, entre outros serviços públicos de fundamental importância. Além do sistema elétrico, que nunca deixa de apresentar problemas, os nossos portos e aeroportos são os piores do mundo, o mesmo acontecendo com as estradas e as ferrovias, sem se falar da educação, da saúde e da segurança pública. Desanimadora, a precariedade é que prevalece em tudo.

Por mais que se fale a respeito, em termos de infraestrutura tudo vai ficando para o dia seguinte, prejudicando todos os setores de atividades. Todo mundo sabe que o Brasil é extremamente vulnerável em todos os serviços públicos de responsabilidade do governo. O pior é que tudo acaba ficando por isso mesmo, sem que sejam adotadas providências efetivas para que as coisas possam melhorar. A inércia e o despreparo são flagrantes. Só quando ocorrem incidentes mais graves como o apagão geral da semana passada é que se fala de forma mais contundente sobre as soluções que são necessárias, mas, lamentavelmente, logo tudo cai no esquecimento até o próximo problema acontecer. Até mesmo os meios de comunicação e as lideranças da sociedade civil acabam não cobrando tudo aquilo que deveria ser cobrado dos órgãos competentes.


O fato é que o Brasil é um bom exemplo do que a fantasia faz: mostra uma casca bonita, prepara a Copa do Mundo e a Olimpíada, mas por dentro está todo apodrecido. Exatamente como comprovou o blecaute em dezoito Estados brasileiros.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Hipocrisia

Bons tempos aqueles em que o torneiro mecânico Lula se preocupava com o desemprego, com os baixos salários dos trabalhadores e os benefícios insignificantes dos aposentados e pensionistas. Todos que imaginavam que ele faria alguma coisa para mudar essa situação, assim que assumiu a presidência da República, em 2003, enganaram-se redondamente. Quase sete anos depois, ele insiste em ignorar a situação de penúria em que vivem os aposentados, que são obrigados a se privar de muita coisa, principalmente assistência médica decente e medicamentos, além de continuar trabalhando para reforçar o orçamento doméstico, cada vez mais combalido pelo achatamento dos benefícios que recebem.

Semana passada, o presidente deixou bem clara a sua disposição de convencer o Congresso Nacional a não aprovar a proposta que concede o mesmo índice de reajuste do salário mínimo aos aposentados e pensionistas, que inclusive resolveram fazer uma ruidosa manifestação de protesto dentro do parlamento nacional contra a falta de sensibilidade do governo. O chefe da Nação alega que, caso o índice de reajuste dos benefícios seja o mesmo do salário mínimo, beneficiando a mais de 8 milhões de inativos, que as contas da Previdência Social poderão sofrer duras conseqüências, tornando-se inviáveis. Para quem é ineficiente e ineficaz, sempre é mais fácil e mais cômodo dizer não do que buscar soluções para tudo aquilo que é de interesse da população.

Na verdade, não é de hoje que se ouve a mesma história da carochinha. Há pelo menos trinta anos que os governantes batem na mesma tecla, jogando em cima dos pobres dos aposentados a responsabilidade pelo déficit da Previdência, cuja gestão nunca deixou de ser uma calamidade pública. Todos os trabalhadores que durante 35 anos ou mais cumpriram com suas obrigações não podem ser responsabilizados pela incompetência dos governantes. Os aposentados e pensionistas também não são os responsáveis pelos rombos na Previdência, pelo desperdício de recursos públicos e pela corrupção desenfreada, que não deixa sobrar dinheiro nos cofres do governo. Os que já trabalharam além da conta também não podem ser responsabilizados pelo inchaço da máquina administrativa, onde não são poucos os "fantasmas" que aparecem nas repartições públicas apenas para receber o salário do mês.

Ao invés de chorar pela conquista das Olimpíadas no Brasil, em primeiro lugar o presidente Lula deveria chorar pelos aposentados e pensionistas que não conseguem conquistar o direito a um final de vida mais digno e feliz, apesar de tudo aquilo que trabalharam para a grandeza da Nação. Como é que se pode acreditar em um presidente que antigamente bradava contra tudo e contra todos os governantes e, agora, faz pior do que eles faziam? Como ficar em silêncio diante de toda a hipocrisia que existe no cenário político brasileiro?

Brasil Desrespeito e Deboche

Há muito que o Brasil vive um clima surreal, fora da realidade, em uma série infindável de absurdos que são empurrados, sem qualquer pudor, goela abaixo de toda a sociedade, a começar pela impunidade. Do jeito que as coisas estão, todos os códigos deveriam ser jogados na lata do lixo, já que não servem para nada. Grande parte da classe política pratica patifarias de todos os tipos e não acontece nada. Com os criminosos comuns ocorre a mesma coisa. Não é à toa que a violência, a criminalidade, a corrupção e os golpes de toda natureza tomaram conta de tudo, para desespero da população. Conclusão: a sociedade brasileira está definitivamente entregue aos deus-dará. Pior ainda: com todas as instituições apodrecidas, acreditar que as coisas vão melhorar não passa de uma santa ingenuidade.

O tráfico de drogas não deixa de ser um bom exemplo. Depois de trinta anos avançando sem parar por todo o País, desestruturando famílias e deformando o caráter e a personalidade da juventude, esse mal segue impávido colosso pela rota da destruição humana. Sobre isso, nos últimos dias, o presidente da República, depois de quase sete anos no poder, foi taxativo: "Ainda vai demorar algum tempo pra gente começar a resolver os problemas da violência e do tráfico de drogas no Brasil".
Infelizmente, todo mundo é obrigado a assistir no cotidiano à negação do óbvio, livrando infratores da lei dos crimes mais variados, num incentivo inconcebível à impunidade. Diplomas são descartados, dando lugar à admissão de desqualificados para a maioria dos cargos, enquanto os que lutam nos concursos simplesmente são obrigados a ver seus sonhos caírem por água abaixo. De benesses populistas, nem se deve falar. O indulto a criminosos de todos os matizes se transformou em moeda de troca, deixando os brasileiros entregues à própria sorte.

Credibilidade é o que falta à maioria dos políticos, que não tem o mínimo de respeito com o povo brasileiro. Apenas o dinheiro, as mordomias, as mentiras, a ostentação, as próximas eleições e a conversa fiada é que têm valor. Quando se confronta o passado e o presente político do País, pode-se constatar que chegamos ao fundo do poço de alguns anos para cá. Está instituída e sacramentada a política do desrespeito e do deboche, inclusive de instituições que antigamente tinham uma reputação inatacável. No passado, pelo menos muitos políticos, além de outras autoridades constituídas, eram respeitados, justamente porque davam exemplos e se envergonhavam de atos e decisões assumidas contra a sociedade. Hoje, o que se vê é uma total falta de compromisso com os reais interesses do povo. E, em muitos casos, o que se observa é uma total falta de vergonha na cara.

Em tais circunstâncias, o que se pode esperar do Brasil de amanhã? É fundamental que a sociedade brasileira organizada possa, o quanto antes, reverter essa situação. Todos os segmentos da sociedade civil civilizada precisam se articular contra o que está acontecendo de pior. Quando cada um só olha por si mesmo, será muito difícil Deus olhar por todos.