sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Conselho Nacional de Trânsito

Uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que elevou o número de aulas práticas e teóricas necessárias à habilitação de motoristas e motociclistas provocou uma corrida às autoescolas no final do ano. Como a resolução entraria em vigor no dia 1º de Janeiro, muitos quiseram garantir seu direito a tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) pelas normas vigentes até Dezembro, o que representaria uma economia de cerca de duzentos reais.

É curiosa a psicologia de uma parte das pessoas “brasileiros”, mas certamente esse fenômeno também ocorre em outras partes do mundo em relação ao aprendizado, de maneira geral. São raros os que conseguem perceber que vão à escola não para cumprir uma formalidade, mas para receber uma coisa que não possuem e que é fundamental em suas vidas. Quando o professor não aparece, os alunos comemoram, aliviados. Enxergam vantagem em não aprender e, por extensão, em não saber.

Ninguém acha que não precisa de uma casa mais confortável ou melhor localizada, ou de um carro mais novo, ou de alimentos mais saborosos e variados. Mas, quando o assunto é conhecimento, o que vigora não para todos, felizmente, mas para uma grande parcela da população é uma derivação errónea da ideia de que “menos é mais”. Se é possível conseguir a habilitação com menos horas-aula, por que gastar mais e preparar-se melhor?

No caso específico da formação para o trânsito, essa postura, somada à ausência de um comportamento verdadeiramente ético nas ruas, é responsável por uma tragédia constante. Só no fim do ano, acidentes registrados nas rodovias federais brasileiras mataram 435 pessoas e mandaram outras 4.795 para os hospitais. Apesar das chuvas que deixaram as estradas mais perigosas nas regiões Sul e Sudeste, cerca de 100 mil veículos foram flagrados em excesso de velocidade pelos radares da Polícia Rodoviária Federal, sendo que 80% dos casos foram registrados nessas duas regiões.

Diante de tantas mortes e ferimentos, a reação lógica de qualquer motorista deveria ser a de procurar aprimorar suas técnicas e informação, mas, na prática ocorre o inverso. É como se as estatísticas do trânsito e, mais que elas, o exemplo de pessoas próximas que perderam a vida ou tiveram a saúde comprometida irreversivelmente por causa de acidentes evitáveis não guardassem qualquer relação de causa e efeito com o nível de preparação dos condutores de veículos.

Por tudo isso, a resolução do Contran é positiva, e, a bem da verdade, já deveria ter sido adotada há mais tempo, pois a formação deficiente de motoristas e motociclistas é notória e há muito faz vítimas pelo Brasil afora.

Por outro lado, não se deve esquecer que muitas infrações de trânsito decorrem não da falta de preparo, mas de uma opção deliberada pelo desrespeito à legislação e às normas de segurança. Nestes casos, o problema não é de quantas horas-aula o aluno teve. É de caráter, e como tal deve ser encarado.

É pena que os aparatos de fiscalização existentes nas cidades estejam, hoje, muito mais voltados para a arrecadação de multas, por meio da constatação de excesso de velocidade e estacionamento irregular, do que para a fiscalização do comportamento de motoristas e motociclistas em todas as situações de trânsito, que envolvem “fechadas”, conversões proibidas, ultrapassagens erradas, desrespeito a faixas de pedestres e um sem-número de outras ocorrências.

A presença ostensiva de policiais de trânsito em pontos estratégicos do sistema viário, para verificar “barbeiragens” e temeridades cometidas pelos condutores, teria um aspecto instrutivo prático e poderia ajudar a educar aqueles que, mesmo tendo tirado a CNH e conhecendo a legislação, preferem se comportar como se fossem donos das ruas, sem responsabilidade para consigo mesmos ou os outros.

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