quinta-feira, 5 de março de 2009

O Aleijadinho e a Religiosidade Barroca Brasileira

É o acontecimento artístico-cultural do ano, comemoram os entusiastas da exposição O Aleijadinho e a Religiosidade Barroca Brasileira que foi aberta terça-feira (03/03/2009), no Espaço São Bento.
Durante o período da exposição em Sorocaba (até 3 de abril), a Fundação Luiz Almeida Marins Filho fará o agendamento gratuito para as escolas que desejem levar seus alunos visitar a mostra. Os interessados devem contatar Marcia Sabeh pelo telefone (015) 3331-7777 ou pelo e-mail contato@fundacaolamf.org.br.
Inaugurado no começo do ano depois de um período em que passou por reformas, o Espaço São Bento fica dentro da área do Mosteiro e deverá, conforme anunciado na ocasião, sediar eventos culturais de pequeno porte. Pelo uso do local será cobrado aluguel, com valor revertido para as obras de restauração do prédio. Ainda não existe um cronograma de atividades definido, mas uma das ideias em discussão é transferir para o local parte das peças do Museu de Arte Sacra de Sorocaba.
A mostra reúne dez peças daquele que é considerado o maior nome das artes de todos os tempos no país. Sete dos trabalhos que ficarão expostos tiveram sua autenticidade reconhecida; outros três aguardam parecer técnico.
O acervo inclui ainda, a produção de autores barrocos contemporâneos. Poderão ser vistas, também, outras trinta criações entre ornamentos sacros utilizados em igrejas, quadros e esculturas em madeira.
Nada, claro, se compara às imagens do mestre do entalhe, como é conhecido o artista. Para se ter idéia, basta citar o exemplo da escultura de São Sebastião que faz parte da mostra. Com apenas nove centímetros, ela é a mais rara e preciosa das peças. Teria sido esculpida em 1760, antes da doença ter acometido Aleijadinho.
Destacam-se, ainda, a reprodução de Santa Bárbara, feita em madeira (cedro) sem policromia, que mede 68 cm de altura. Feita provavelmente entre 1791 e 1812, tem algumas características próprias como o planejamento solene, muito semelhante ao da imagem de Santa Luzia, de coleção particular, especialmente nos cortes na altura da borla inferior da veste na cintura e na borla inferior na altura dos pés.
O pescoço anatomicamente perfeito, o movimento ilusório, com a perna direita flexionada e as sobrancelhas em linha contínua com o nariz, longo e afilado, são outras marcas do mestre mineiro. O queixo bipartido é semelhante ao das imagens do Servo do Passo da Santa Ceia de Congonhas, bem como da Santa Teresa de Ávila e do querubim do Florão da Jaguara, obras marcantes de Aleijadinho.
Já a estátua maior de São Sebastião, com 81 centímetros de altura, datada do período 1771-1780, traz a representação tradicional do santo, amarrado a uma árvore para ser supliciado pelos arqueiros.
No espaço foi, ainda, montada uma oficina parecida com aquela na qual Aleijadinho trabalhava. O visitante poderá, ainda, ver ambientes que recriam a atmosfera das igrejas mineiras com bancos, altares e retábulos.
Curador da exposição, Marcelo Coimbra conta que, de Sorocaba, os trabalhos seguem para o Rio de Janeiro. Antes daqui, ficou por quarenta dias no quartel do Exército em Itu, onde foi visitada por mais dez mil pessoas.
Coimbra divulgou, na coletiva concedida sexta-feira passada para falar sobre o evento, um dado interessante: Sorocaba e Itu podem ter sido o berço da arte barroca brasileira. Segundo ele, documentos submetidos a estudos comprovariam, nas duas cidades, a existência de indícios a respeito.
Entre eles, o testamento, datado de período anterior à fundação do município, no qual um monge beneditino manifesta a vontade de ser sepultado no distrito de Conceição do Mato Dentro (hoje bairro da zona rural sorocabana) perto de uma imagem sacra, com características da escola seguida por Aleijadinho.
Marcelo Coimbra diz que muito ainda há para ser descoberto no que se refere ao escultor. Oficialmente, ele tem catalogadas cerca de 400 obras, mas é provável que outras 500 ainda devam ser incorporadas ao acervo. Quase todas devem figurar de coleções particulares.
Já para o professor do curso de Mestrado em Comunicação e Cultura da Uniso, Jorge Anthonio e Silva, a oportunidade de conhecer a obra do autor é única. Ele é um dos gênios da expressão clássica brasileira. Ao lado de Villa Lobos e Guimarães Rosa é, sem dúvida, a essência do fazer cultural no país. Deu ao barroco europeu um toque de brasilidade, produziu imagens à semelhança do povo.
Foi, aliás, o caráter religioso de sua produção que deu ao artista notoriedade. Aleijadinho ficou conhecido, antes de mais nada, pela genialidade, mas o viés sacro de sua arte lhe deu, inegavelmente, projeção.
Até por isso, o brasileiro tem sua trajetória comparada com a de outro mestre: o italiano Michelangelo. Mesmo tendo vivido em épocas distantes uma da outra, os dois têm muito em comum.
Ambos, lembra o pesquisador Marcelo Coimbra, atenderam encomendas da Igreja Católica, administraram crises com lideranças religiosas (o primeiro chegou a afrontar um Papa; Aleijadinho se indispôs com o arcebispo de Congonhas) e produziram obras requintadas.
Serviço:
A exposição O Aleijadinho e a Religiosidade Barroca Brasileira estará aberta até o dia 3 de abril e pode ser visitada de terça a domingo das 12h às 20h
Os ingressos custam R$ 3 (estudantes e professores pagam meia e idosos têm entrada gratuita)
Há estacionamento particular no local
O Espaço fica no Largo de São Bento, 144
(Jornal Cruzeiro Do Sul)

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